O que agora se debate na RIO+20 é muito mais que uma agenda
para a questão ambiental. O que está em jogo é bastante maior do que possamos
avaliar preliminarmente, embora já saibamos que a própria sobrevivência do
planeta esteja em jogo. Mas
– e isso é o que interessa – os países se reúnem e buscam denominadores comuns
na discussão do presente e na tentativa de forjarem um futuro melhor.
Há um esforço evidente para que se estabeleçam metas a serem
atingidas em benefício da preservação ambiental e da melhora das condições de
vida no planeta. As ‘Metas do Desenvolvimento Sustentável’ (MDS) são provas
cabais disso. Elas são um conjunto de compromissos de ação e governança a serem
assumidos pelos países participantes do encontro. O mundo poderá ter uma
proposta equânime de sustentabilidade, com objetivos bastante claros a serem
perseguidos na busca da transição para modernas estruturas econômicas e sociais
comprometidas com um novo modelo de convivência humana, de exploração de
recursos naturais e de respeito ao meio-ambiente.
O atual modelo de exploração de nossas riquezas exauriu-se.
Em pouco mais de um século de uso predatório do subsolo, de extração mineral
desordenada, de agressão aos ecossistemas, de impressionante poluição do ar e
das águas e de devastações das florestas, realizamos o nada honroso trabalho de
colocar em risco a própria sobrevivência do homem e do planeta Terra. O que era
até bem poucos anos um agenda destinada à platéias seletas, estudiosos
aplicados ou aos devotados militantes da causa ambiental ridicularizados com a
injusta denominação de ‘ecochatos’, agora é assunto relevante e do interesse de
cada um. Para ser mais claro: a Terra nos chamou à responsabilidade e agora
exige que tratemos com seriedade, competência e idealismo, o mais importante
tema de hoje e das próximas décadas.
Nada tem sido fácil e há muito ainda a ser feito, mas as
conquistas já se apresentam nítidas aos que crêem que é possível vencer a dura
batalha pela sobrevivência do planeta e da própria raça humana. Dos oito
‘Objetivos de Desenvolvimento do Milênio’, estabelecidos pela Organização das
Nações Unidas acerca de questões sociais, econômicas e ambientais, alguns já
estão sendo atingidos.
O Brasil, especialmente com o advento da chegada do
presidente Lula ao poder em 2003, contribuiu enormemente para um dos mais
importantes pontos elencados pela ONU: a redistribuição de renda. Quando, em
menos de uma década, o Brasil levou 40 milhões de pessoas da pobreza para a classe
média, mudando substantivamente a qualidade de vida de cada uma delas, acabou
por tornar-se profícuo exemplo para um mundo melhor.
Detentor da maior biodiversidade do planeta, com imensas
reservas minerais, porte continental, terras férteis e agricultura produtiva, a
esplendorosa Amazônia, fauna, flora e biomas incomparáveis, o Brasil deu passo
decisivo rumo à sustentabilidade ao tornar-se, também, um país mais justo e com
mais igualdade social.
A África, marcada pelo subdesenvolvimento, dá a volta por
cima, mesmo que lentamente, e coloca cinco de seus países entre as dez
economias que mais crescem e avançam em todo o mundo. O crescimento do sofrido
continente negro chega a quase 6% ao ano, realizando transformações de base na
vida de mais de 1 bilhão de irmãos nossos. As reservas minerais, de água e as
terras agricultáveis africanas são imensas e devem ser exploradas de forma
sustentável. Manter o exato equilíbrio entre as necessidades versus
potencialidades daquele continente e de sua população será um dos desafios
desse tempo que se anuncia.
E, como que mostrando a conscientização que cresce em todo o
mundo e fortalecendo a agenda ambiental, iniciativas vem sendo tomadas pela
sociedade civil independente dos governos. Empresários do setor industrial e
fazendeiros norte-americanos, independente da posição antipática e
irresponsável dos Estados Unidos em não assinar o ‘Protocolo de Kyoto’ e não se
fazer representar na RIO+20 pelo próprio presidente Obama, financiam pesquisas
e implementam práticas sustentáveis com
o intuito de reduzir a emissão dos gases que alimentam o “efeito estufa”. O
Estado da Califórnia e dezenas de cidades de todos os portes já seguem o bom
exemplo vindo da iniciativa privada.
O Brasil está fazendo sua parte. Nunca, em qualquer outro
governo, o Ministério do Meio-Ambiente foi tão feliz como está sendo em sua
atuação sob o comando sereno e competente de Izabella Teixeira. Não existe uma
prática messiânica ou mentirosa, jogando para o grande público e se
distanciando tanto da realidade dos problemas quanto da responsabilidade de
enfrentá-los e vencê-los. Mas há uma ação coordenada, sensata e capaz que
coloca o Brasil na vanguarda da luta pela sustentabilidade e a preservação
ambiental. O presidente Lula conseguiu isso com a chegada de Carlos Minc aquele
Ministério tão importante e de missão tão crucial. A presidenta Dilma,
assessorada por Izabella, continuou trilhando o mesmo caminho e apresenta
resultados altamente satisfatórios, longe do aplauso fácil e abominando a
demagogia eleitoreira.
Voltemos nossas mentes e corações para a RIO+20. Lá se
discute passado, presente e futuro.
(*) Delúbio Soares é professor